Vinhos e sabores: escolhas, encontros e desencontros



Estamos em plena época fervilhante de eventos sobre vinho. Desde há cerca de um mês praticamente todos os fins-de-semana há um ou mais eventos sobre vinho.

Exemplos: Mercado de vinhos do Campo Pequeno, Grandes Escolhas Vinhos & Sabores, Dão Capital, Encontro com Vinhos e Sabores, e ainda há-de vir o Wine Fest, o Adegga Wine Market, e devo estar a esquecer-me de alguns.

E qual é o problema, perguntar-se-á? Nenhum problema, a não ser o facto de para os visitantes isto se poder tornar saturante. Tamanha proliferação de eventos pode levar, por um lado, a uma sensação de “déjà vu” e “mais do mesmo”, como até à saturação dos “provadores”. Nós sabemos que muitos dos visitantes destes eventos trabalham ou estão de alguma forma ligados à área, mas a maioria provavelmente são apenas apreciadores, mais ou menos informados, mais ou menos interessados, para quem 3 eventos, 4, 5 ou 6 não adiantam nada, ou adiantam muito pouco.

Poderá justificar-se a realização de alguns eventos menos mediáticos com produtores menos conhecidos, porque aí pode-se conhecer vinhos e produtores menos divulgados. Mas quando entramos no domínio dos grandes eventos, que decorrem durante 3 ou 4 dias, a pergunta é: justifica-se? Vale a pena?

Vem este intróito a propósito dos dois mega-eventos que decorreram em Lisboa apenas com duas semanas de intervalo. Acredito que talvez este ano, por ter sido o primeiro pós-cisão na Revista de Vinhos, tenha sido necessário apalpar terreno e marcar algum território para ver como o mercado se posiciona. Mas depois de ter passado pelos dois eventos, a primeira impressão é que a equipa que criou a nova revista Vinhos – Grandes Escolhas ganhou por 10-0! A começar desde logo pela escolha das datas e do local: a antecipação do evento coloca-o desde logo na dianteira, porque parte à frente. A mudança para a FIL, um espaço por excelência para receber multidões, marcou uma diferença abismal para os anos anteriores no Centro de Congressos na Junqueira.

Na hora de maior afluência, ao fim da tarde de sábado, na FIL circulava-se calmamente pelos corredores. À mesma hora na tarde de sábado na Junqueira as pessoas chocavam umas com as outras nos corredores do meio, como é habitual.

Acresce a isto que na FIL houve espaço para aumentar o número de corredores com stands e ainda sobrou espaço para as provas paralelas. Na Junqueira, por sua vez, cerca de metade do produtores não estavam lá, os stands laterais desapareceram e foram lá colocados bancos e mesas. Mas o espaço para circular manteve-se igual, ou seja, não ocorreu a ninguém aumentar a distância entre corredores uma vez que o espaço sobrava.

Quanto aos vinhos para provar... metade deles desapareceram, e tirando um ou outro produtor menos conhecido, como a Casa do Côro ou a Quinta da Caldeirinha, na Beira Interior, não se viu nada de novo. Os vinhos premiados no concurso Vinhos Grandes Escolhas, que não tive oportunidade de provar na FIL, tirando dois ou três nem sequer estavam na Junqueira.

Até a disposição dos stands na entrada estava igual. Olhando para os produtores mais importantes (quer pelo volume de vendas quer pelo prestígio da marca), parece que a maioria não estava lá. O Esporão, que habitualmente ocupa os 4 lados dum stand central, não estava lá. A Sogrape, com disposição semelhante, estava quase escondida num cantinho da ponta, apenas com vinhos do Dão e Alentejo e quase passava despercebida. Aveleda, Messias, Casa da Passarela, Niepoort, Ramos Pinto, Quinta do Vallado, Quinta do Vale Meão, Enoport, Fiúza, entre outros e para não ser exaustivo, nem vê-los...

Dito isto, posso estar enganado, mas neste primeiro confronto entre eventos organizados pelas duas maiores revistas de vinhos do país, a antiga equipa ganhou por goleada. Agora os números oficiais falam em 18.000 visitantes na Junqueira, número que parece standard pois todos os anos os números anunciados são entre os 17 e os 19.000 visitantes. Custa-me a crer nestes números, mas independentemente do seu rigor acho que só com muito boa vontade se poderá apelidar um evento em que uma parte significativa dos grandes nomes não está presente de “maior evento do país”, a não ser que estejamos a falar do stand das comidas. Só se for em publicidade.

Mas isto sou eu a falar, que estou de fora e não percebo nada do negócio...

Kroniketas, enófilo desconfiado

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