5º Festival de Vinhos do Douro Superior (4ª parte)

Quinta da Cabreira




Segundo dia.

Depois da votação no Concurso de Vinhos do Douro Superior durante a parte da manhã, rumámos para leste, na direcção de Castelo Melhor, embrenhando-nos pela primeira vez nas “profundezas” do Douro Superior, para a meio do percurso fazermos um transbordo para duas carrinhas de caixa aberta que nos levaram durante vários quilómetros de terra batida (que pareciam intermináveis...), pelo meio de vinhas, por muitos montes e alguns vales, até à Quinta da Cabreira, propriedade da Quinta do Crasto.

Várias paragens durante o percurso para ouvir algumas explicações dadas pelos membros da equipa que ali trabalha, com o enólogo Manuel Lobo de Vasconcelos à cabeça. Subimos, descemos, cruzámos caminhos já percorridos e por fim chegámos ao topo! Ali está-se, literalmente, no meio de nada! Acima de nós, o céu; algumas centenas de metros abaixo, o Douro. Estamos na margem esquerda e aqui, para os mais místicos e que acreditam nessas coisas, parece que estamos mais perto de Deus. Não é o meu caso, que sou ateu, mas a ideia ocorreu-me.

Há um casão, armazém, para os trabalhos na vinha a pouco mais. Não há casa de banho, pelo que os mais aflitos dão uma escapadela para trás do casão e lavam as mãos na água duma mangueira.

Somos recebidos pelo proprietário Jorge Roquette que faz as honras da casa, enquanto nos dispersamos por uma mesa disposta ao comprido mesmo no cimo do monte: vamos almoçar a 400 metros de altitude, com o Douro a correr pachorrentamente lá em baixo. O calor é quase sufocante nestas paragens, donde só se vislumbra, para além das muitas vinhas, montanha e mais montanha. Confirma-se in loco que no Douro Superior há um microclima em que as temperaturas máximas, mesmo em altitude, atingem valores impensáveis. Felizmente dispuseram uns chapéus-de-sol de esplanada para nos resguardar, mas mesmo assim muitos dos presentes almoçam com o chapéu de palha que nos ofereceram posto na cabeça...

Come-se um caldo verde e arroz de pato enquanto se degustam três vinhos da Quinta do Crasto: o Crasto Superior branco, muito fresco e com muito boa acidez, bem estruturado mas elegante, o Crasto Superior tinto, que já conhecia, e um surpreendente Crasto Superior Syrah, que se porta muito bem e revela uma personalidade inesperada. São vinhos elaborados com uvas precisamente dali, da Quinta da Cabreira. Termina-se, nas sobremesas, com um Porto LBV.

Não apetecia sair dali, mas a tarde corre depressa e ainda vamos visitar o pavilhão da Expocôa para dar uma volta pelo festival de vinhos, afinal o evento que deu o mote a todo este programa. Mas à saída, antes de voltarmos a subir para as carrinhas, ainda somos presenteados com uma caixa onde está uma garrafa de Crasto Superior branco e uma de Crasto Superior tinto.

Este foi um dos pontos altos (não só geograficamente falando) do nosso programa. Para mim, pelo menos, que nunca tinha estado no coração do Douro Superior, ali no meio das montanhas. É uma ocasião para recordar, e nunca serão demais os agradecimentos a quem nos levou lá e a quem tão simpaticamente nos recebeu e nos falou da história e das histórias desta empresa.

Kroniketas, enófilo viajante

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Quinta do Crasto
Gouvinhas
5060-063 Sabrosa
Tel. 254.920.020

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