No meu copo, na minha mesa 525 - Jantar Monte dos Cabaços no restaurante Via Graça





Em mais uma iniciativa da Néctar das Avenidas, no passado dia 1 de Abril tive oportunidade de participar no 50º jantar vínico organizado pela garrafeira sediada na Avenida Luís Bivar.

O local escolhido foi o restaurante Via Graça, localizado numa das zonas mais privilegiadas da capital, próximo do Largo da Graça e com uma vista de cortar a respiração para a baixa da cidade, o castelo de São Jorge e a ponte 25 de Abril. Vale a pena parar uns minutos no Miradouro da Senhora do Monte, ao cimo da Calçada do Monte, a contemplar o espectáculo que se sabre diante dos nossos olhos e abaixo dos nossos pés.

Lá dentro, no restaurante, os dois pisos de salas estão virados precisamente para esta vista magnífica, o que torna a permanência ainda mais apetecível.

Como parceira para a degustação dos vinhos foi escolhida Margarida Cabaço, proprietária do afamado restaurante São Rosas, em Estremoz (que já tive oportunidade de visitar por duas vezes), e que começou a sua própria produção vinícola pelo Monte dos Cabaços, tendo agora apresentado um portefólio alargado com vários brancos e tintos produzidos na região.

Feitas as devidas apresentações, o Chef anunciou-nos o que vinha aí em termos de sólidos, o que desde logo nos deixou de água na boca, Margarida Cabaço foi apresentando os líquidos. As harmonizações foram seguindo a ordem indicada no menu reproduzido acima.

Apesar do alto nível dos pratos propostos, foi-nos dito para usufruirmos mas que as estrelas da noite deveriam ser os vinhos. Deveriam...

Pelos pratos, depois das habituais entradas e patés para entreter, começaram a desfilar verdadeiras delícias que compuseram um menu verdadeiramente sublime:

  • Pato confitado com risoto de cogumelos selvagens. Cozinhado no ponto, tenríssimo quase a desfazer-se na boca e com a carne a desprender-se dos ossos só com o toque do garfo, por cima duma cama de risoto de comer e chorar por mais;
  • Hambúrguer de cabrito assado com esparregado, talvez o prato menos oroginal e menos exuberante em termos de sabores, mas ainda assim a fazer jus à qualidade do caprino;
  • Para finalizar em beleza, e já quase sem estômago que foi preciso poupar nos pratos anteriores, um manjar do céu: arroz de caça (lebre, perdiz, faisão e javali)., malandrinho, caldoso, com as carnes em perfeita harmonia e tão bem fornecido e temperado que tive de pedir… mais arroz!
  • E para o encerramento da função, a sobremesa não poderia ficar atrás das outras delícias, e lá tivemos de nos banquetear com um delicioso bolo de mousse de chocolate! Simplesmente divinal aquilo que se nos ofereceu mastigar.

Perante tamanho nível desta oferta gastronómica, os vinhos acabaram por ressentir-se.

Pela nossa mesa passaram:

  • Monte dos Cabaços Colheita Seleccionada branco 2013 - 13,5% - Antão Vaz, Arinto e Roupeiro
  • Monte dos Cabaços Colheita Seleccionada tinto 2010 - 14% - Alicante Bouschet, Aragonês, Touriga Nacional
  • Margarida Edição Especial tinto 2010 - 14,5% - Alicante Bouschet
  • Monte dos Cabaços Reserva tinto 2008 - 14,5% - Touriga Nacional e Alicante Bouschet
  • Margarida Edição Especial branco 2011 - 14% - Encruzado


Deviam realmente ser as estrelas da noite mas não foram... Por duas ordens de razões principais: primeiro, porque perante a excelência do menu apresentado, de altíssimo nível, só mesmo vinhos de altíssimo nível é que conseguiriam competir neste campeonato, e aí estamos a falar de um campeonato mesmo de topo!

Em segundo lugar, porque independentemente das iguarias que tivemos na mesa, os vinhos na sua globalidade ficaram-se por pouco mais do que a mediania. Não há nada em particular que os distinga de muitos outros, nenhuma novidade em especial nem nenhuma característica típica que os ligue à região. Aposta nas castas da moda, vinhos altamente alcoólicos, muito concentrados e com madeira, e temos a conversa feita...

Não quero com isto menorizar o trabalho que é feito nem a bondade da escolha para este jantar – quem sou eu, um amador, para pôr em causa o trabalho de profissionais que sabem daquilo tudo o que eu não sei. Simplesmente, como consumidor, apenas posso colocar estes vinhos num patamar que não vai muito além da vulgaridade, com o adicional de que nada trazem de novo ao panorama dos vinhos nacionais e aos alentejanos em particular.

Por isso, a grande memória que fica deste evento, e a grande vontade de lá voltar, é mesmo pela excelência do restaurante. Se há local que merece a designação de “5 estrelas”, é este Via Graça!

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Via Graça
Rua Damasceno Monteiro, 9-B
1170-108 Lisboa
Tel: 21.887.08.30/21.887.03.05
Nota (0 a 5): 5

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