Na Empor Spirits & Wine 1 - Quinta de Foz de Arouce

 

No mundo do vinho, apesar da crise que tem assolado o país nos últimos anos, e embora se supusesse que este seria inevitavelmente um sector bastante afectado, a verdade é que os sinais que passam para o exterior parecem indicar o contrário.

Recordando os locais onde me deslocava com alguma frequência há 2, 3, 4 anos para participar em provas de vinhos em Lisboa, de memória destaco 3 ou 4, os mais habituais: Wine o’clock, nas Amoreiras, Garrafeira Nacional, na baixa, Delidelux, em Santa Apolónia, Coisas do Arco do Vinho, no Centro Cultural de Belém, e Garrafeira Internacional, no Príncipe Real (menos frequente). Mesmo com estes, por vezes era difícil gerir o calendário das provas, porque em várias ocasiões houve provas simultâneas em 3 ou 4 locais. Para além destas, claro, havia as clássicas, como algumas na baixa, a Agrovinhos em Alcântara ou a histórica Garrafeira de Campo de Ourique.

A verdade é que, apesar da crise, cada vez há mais e desde há 2 ou 3 anos as garrafeiras (tal como os wine bars) têm surgido na capital quase como cogumelos. Compilando alguns dos convites que vou recebendo via Facebook para diversos eventos e mais algumas informações (e vou esquecer algumas, com certeza), registei estes espaços de existência mais ou menos recente:

• Adega & Gourmet (Campo de Ourique)
• Aprazível (Chiado)
• Algés com sabores (Algés)
• Empor Spirits & Wine (Rua Castilho – Parque Eduardo VII)
• Estado d’Alma (Alcântara)
• Garrafeira de Santos (Janelas verdes – Santos)
• Garrafeira São João (S. Domingos de Benfica)
• Hill’s Bottled (Avenidas Novas – Saldanha)
• Living Wine (Avenida de Roma)
• Néctar das Avenidas (Avenidas Novas – Saldanha)
• Portugal Wine Room (Bairro de Alvalade)
• The Wine Company (S. Domingos de Benfica)
• Wines 9297 (Telheiras)

Já tive oportunidade de me deslocar a quase todas pelo menos uma vez (há muitos dias em que decorrem 5 ou 6 eventos em simultâneo), para provas ou para fazer compras. Alguns até encontrei por acaso ao passar na rua... A verdade é que, a julgar pela proliferação de espaços para venda e degustação de vinhos, o mercado está bem... e recomenda-se.

Vem isto a propósito, e depois da maior edição de sempre do Encontro com o Vinho e os Sabores (19.000 visitantes, ao que consta), de uma deslocação efectuada já há algumas semanas a um destes novos espaços, dirigido por uma “velha” conhecida de outra loja. Trata-se da Empor Spirits & Wine, uma nova garrafeira localizada num ponto estratégico da cidade e de fácil acesso, quase junto ao alto do Parque Eduardo VII e com estacionamento relativamente fácil ao fim da tarde, onde decorreu uma prova vertical de brancos e tintos da Quinta de Foz de Arouce, um dos produtores com o dedo enológico de João Portugal Ramos. Entre os vinhos provados encontrava-se um daqueles que viriam a ser premiados com a “Escolha da Imprensa” no Encontro com o Vinho e os Sabores, o tinto Vinhas Velhas de Santa Maria 2009.

Embora não sejam dos vinhos que tenho provado com mais frequência, conheço a marca há bastantes anos e quando surge a oportunidade lá se vai provando uma ou outra colheita. Novidade, contudo, foi a prova dos brancos que, curiosamente, me surpreenderam mais que os tintos. Gostei em particular da acidez, da persistência, da profundidade aromática a par com alguma mineralidade, no que pareceu ser um branco bastante polivalente e com bom potencial de guarda. Foram provados apenas dois vinhos, mas prometeram bastante.

Quanto aos tintos, foram percorridas várias colheitas que mostraram alguma evolução (as mais antigas) mas muita consistência e estrutura, ou não estejamos paredes meias com a Bairrada. Curiosamente, o tinto que mais se destacou na opinião dos presentes foi precisamente o 2009, isto ainda antes de ser um dos premiados com a “Escolha de imprensa”. Profundo, aromático, com alguma robustez mas sem perder elegância, sem dúvida um belo vinho. Parecia premonitório...

Quanto à loja propriamente dita, o portefólio, embora não seja muito vasto (o espaço também não é...) está bem selecionado, fugindo um pouco ao mais comum e apostando sobretudo em vinhos da gama média-alta. O espaço está bem decorado, bonito, bem arrumado, é agradável estar lá dentro, com uma ampla montra para a rua. Se for bem gerido (e isto de vender vinho não se trata “apenas” de vender o vinho) tem todas as condições, até pela sua localização privilegiada no coração da cidade, para ter sucesso. Pela minha parte, tentarei dar o meu pequeno contributo dentro das minhas possibilidades, divulgando o que por lá se faz e adquirindo alguma coisa sempre que for possível. Afinal é para isso que estes espaços existem, para nós consumidores os frequentarmos. Como não se pode ir a todas, vai-se aparecendo onde e quando se pode.

Kroniketas, enófilo itinerante

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