Encontro com o Vinho e os Sabores 2014 (2ª parte)

Prova vertical das Cortes de Cima - Incógnito e Homenagem a Hans Christian Andersen


  
   

A segunda etapa do primeiro dia terminou com uma prova vertical das Cortes de Cima, com a degustação de várias colheitas do Incógnito sendo algumas delas em paralelo com o Homenagem a Hans Christian Andersen (escritor dinamarquês).

Apresentada pelo enólogo Hamilton Reis, este começou por fazer um breve historial da casta Syrah (crê-se que originária do Vale do Ródano), a base dos vinhos em prova, no mundo e nas Cortes de Cima em particular, um dos primeiros locais em Portugal onde a mesma foi plantada, em 1991.

O Incógnito viu a luz do dia em 1998 com uma casta à época não autorizada no Alentejo, pelo que sempre foi lançado como vinho regional. O próprio nome do vinho pretendeu realçar os obstáculos legais que foram encontrados para fazer um vinho de Syrah no Alentejo. Com o tempo tornou-se um ícone da propriedade e um dos exemplares mais apreciados dos vinhos desta casta, de que não sou apreciador em particular no Alentejo. No entanto, os vinhos provados mostraram a razão de ser da fama (e do preço) deste vinho, apresentando uma personalidade e uma estrutura fora do comum. O Incógnito provém sempre duma mesma parcela de vinha, com condições particulares dentro da propriedade, e só em anos de qualidade excepcional. De outras parcelas sai, por vezes, uma espécie de “segundo Incógnito”, o Homenagem a Hans Chrsitian Andersen, com características diferentes, mais aberto, mais leve, mais frutado e com menos concentração.

Em prova estiveram, no total, 12 vinhos distribuídos entre estas duas marcas. Dentro das características mais marcantes em cada vinho, foi curioso observar que alguns vinhos de colheitas mais antigas se apresentaram mais robustos que alguns mais jovens, o que mostra a longevidade deste vinho.

Do Incógnito desfilaram as colheitas de 1999 (15% de álcool), 2002 (15%), 2004 (14,5%), 2005 (14,5%), 2008 (14,5%) 2009 (14%) e 2011 (14%), tendo igualmente sido provadas, a par dos Incógnitos, as colheitas do Homenagem dos anos de 2004 (14,5%), 2007 (14,5%), 2008 (14%), 2009 (14%) e 2010 (14%).

Dum modo geral o Incógnito apresenta-se mais concentrado e robusto, com notas balsâmicas, boa estrutura e taninos poderosos, enquanto o Homenagem mostra um carácter mais jovem, frutado, redondo e macio.

Claro que entre tantas colheitas as variações foram imensas. O Incógnito 1999 com clara evolução na cor e no aroma, com notas compotadas, concentrado mas já aberto e suave, a mostrar que já não tem mais para melhorar. O 2002 apresentou-se mais vivo e vibrante na boca, mais frutado, longo e estruturado. 2004 e 2005 mostraram-se ainda rugosos, duros, algo polidos mas com muito para amaciar. Os mais recentes mostraram-se mais frutados e macios, com destaque para o de 2011 que pareceu ser um dos melhores de sempre.

Nas colheitas do Homenagem as de 2004 e 2007 foram as mais equilibradas entre o corpo, a fruta, a estrutura e a elegância. O 2008 mostrou aroma a fruta ainda jovem mas final algo curto, o 2009 mais redondo mas menos complexo e o mais recente, 2010, mostrou a fruta algo verde e a madeira ainda demasiado marcada.

No conjunto, e feito o balanço, tivemos uma excelente amostra de belíssimos vinhos, de qualidade inquestionável e que mereceram bem a ampla plateia que tiveram a presenciar a prova. Estes sim, são vinhos que justificam o bom nome que a casa granjeou, conquanto preço do Incógnito seja, à partida, um factor inibidor da compra (à volta de 60 € em média para o Incógnito).

Kroniketas, enófilo itinerante

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