No meu copo, na minha mesa 335 - Alvor Singular branco 2012; Cabrita branco 2012; Restaurante Do Cais - Clube Naval de Portimão

    

É já uma tradição com uma boa meia-dúzia de anos (e já aqui a relatámos por duas ocasiões: em 2007 e 2008). Aproveitando o facto de metade do Grupo Gastrónomo-Etilista “Os Comensais Dionisíacos” passar férias no Algarve em Agosto, ocupando uma faixa que vai desde Alvor (o Politikos) a Armação de Pêra (o Caçador e o Pirata), com passagem por Portimão (este escriba), surgiu a ideia de aproveitar a ocasião para nos encontrarmos para um repasto num restaurante. Desta vez sem necessidade de compras, arrefecimento de garrafas, transporte de copos de boca larga, frappés, decanters, ingredientes, sobremesas, e tutti quanti que envolve os repastos caseiros, bem comidos e melhor regados… O que interessa mesmo, neste caso, é desfrutar das cálidas noites do Verão algarvio (e como foi magnífico este Agosto, como há muito não se via, sempre com a temperatura da água acima dos 23 graus em toda a costa para leste de Lagos... isto no ano que os americanos diziam que ia ser o pior Verão desde que há registos…), e se possível juntando o útil ao agradável, aproveitando uma esplanada junto ao mar ou ao rio.

Pois foi isso que encontrámos em 2012, e agradou de tal forma que este ano logo o Pirata me informou que estava antecipadamente votado regressarmos ao local. E que local é este, afinal?

Trata-se do restaurante do Clube Naval de Portimão, situado na zona ribeirinha da cidade, no extremo oposto à ponte velha e aos restaurantes da sardinha assada. No primeiro andar podemos desfrutar duma vista panorâmica sobre o rio Arade numa extensão prolongada entre a ponte e a foz, pois para além da sala interior existe uma esplanada que fica mesmo em cima do rio. Em noites quentes como as que se tivemos este ano, pode-se ficar por ali em amena cavaqueira até o restaurante fechar. Foi o que aconteceu, fomos os últimos a sair, já para lá da meia-noite e com a equipa do restaurante a arrumar as mesas e as cadeiras da sala...

Para além da situação geográfica privilegiada, o restaurante por si só também justifica uma visita, pois apresenta uma qualidade muito apreciável, permitindo reconciliarmo-nos com as refeições fora de casa em tempo de férias, pois foge ao caos que impera em grande parte dos locais similares nesta época do ano. Precisamos é de nos forrar com alguma paciência, pois para não fugir à regra o serviço é algo demorado. No entanto, podemos compensar a espera com a degustação sucessiva de várias tacinhas de um delicioso paté de peixe (com alho, pimento e sei lá que mais), que se vai barrando num excelente pão até ser preciso pedir mais. Mais pão e mais paté.

A ementa é vasta e variada, sendo preferencial a escolha dos pratos de peixe, apesar de nela também constarem alguns apetitosos bifes. No entanto temos quase sempre optado pelos arrozes, massadas ou cataplanas. Já tinha experimentado noutra ocasião e voltei a escolher uma cataplana de lombinhos de porco com amêijoas que partilhei com o Caçador. Excelente no tempero, bem carregada de tomate como se impõe e com o molho bem apurado, é um prato que merece ser revisitado e pede meças às outras cataplanas exclusivamente de peixe. Também vieram umas espetadas de tamboril com gambas e uma massada de peixe. Ninguém se queixou, nem da quantidade nem da qualidade, e no fim o Politikos ainda fez questão de nos dar a provar o resto da massada de peixe.

Nos vinhos, como também vem sendo hábito nestas ocasiões, optámos unicamente pelos da região: do Algarve e, se possível, de Portimão. Um já nosso conhecido, o Alvor Singular, voltou a mostrar-se à altura dos acontecimentos. Bebe-se com prazer, é fresco, leve sem ser deslavado e tem uma boa acidez. Vem uma garrafa, outra e outra, até que se acaba por querer experimentar outro vinho. Optamos, então, por um Cabrita (produzido no Sítio da Vala, perto de Silves), mais estruturado e encorpado, mais persistente mas também mais rústico e menos elegante, e que talvez por isso mesmo desagradou às senhoras. Garrafa esgotada, e voltámos ao Alvor Singular até ao fim da refeição.

Nas sobremesas, e apesar de algumas de pendor mais regional, não há grande história para contar: são as que há em todo o lado, como o universal “doce da casa” ou a mousse de chocolate.

Quanto ao espaço em si, vale a pena lá voltar. Descontadas as já esperadas deficiências desta época (embora sem chegarmos ao ponto de exasperar pela demora), a qualidade é boa, o atendimento simpático, atencioso e permite estabelecer algumas conversas com o pessoal que vai rodando pelas mesas, e no final toda a gente sai satisfeita. O preço, não sendo propriamente barato (quem procurar gastar pouco deve escolher outro local), também não queima em demasia, e quando assim é não há grandes razões de queixa. Recomenda-se, portanto, a quem estiver disposto a passar um bom serão sem se preocupar em demasia com o valor da conta...

No fim de tudo isto, um passeio de ida e volta em passo lento até ao outro extremo da zona ribeirinha, com a conversa a prolongar-se até às 2 e meia da manhã. E por ali teríamos ido ficando não fosse o adiantado da hora. Regresso a casa, que para o ano há mais, e os próximos repastos voltarão ao registo caseiro na zona da Capital. Como aquele outro que tinha antecedido este, e que também já é tradicional: o repasto de fim de época antes das férias...

Kroniketas, enófilo regressado de terras algarvias

Restaurante: Do Cais
Clube Naval de Portimão
Zona Ribeirinha, Doca de Recreio
8500-503 Portimão
Tel: 282.432.325
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Alvor Singular 2012
Região: Algarve (Portimão)
Produtor: Quinta do Morgado da Torre
Grau alcoólico: 13%
Castas: não indicadas
Preço: 4,99 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Cabrita 2012 (B)
Região: Algarve
Produtor: José Manuel Cabrita - Quinta da Vinha
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: não indicadas
Preço no restaurante: 11 €
Nota (0 a 10): 7

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