No meu copo 313 - Ramos Pinto Collection: 2005, 2006, 2007

Foi com a colheita de 2005 que esta marca apareceu pela primeira vez no mercado. Como normalmente acontece, as novidades provenientes da Ramos Pinto despertam-nos especial atenção, como aconteceu há uns anos aquando do lançamento duma colheita única, o Duas Quintas Celebração - Quinta de Ervamoira, de que infelizmente também só comprei um exemplar único...

Este Collection surgiu pouco tempo depois. Posicionado num patamar de preços entre o Duas Quintas e o Bons Ares (abaixo) e o Duas Quintas Reserva (acima), trouxe como originalidade o facto de todas as colheitas terem um rótulo diferente, votado pelos internautas, que vai recuperar a colecção de rótulos antigos utilizados no vinho do Porto... Daí resultou o nome “Collection”, com o qual a Casa Ramos Pinto pretende homenagear o seu fundador, Adriano Ramos Pinto, mergulhando na história da casa como inspiração para a criação de cada rótulo que invoca o estilo Belle Époque, do início do século XX.

Temos adquirido exemplares de todas as colheitas lançadas, e consumido com parcimónia e sem pressas. Os consumos mais recentes mostram que estes são vinhos de guarda, que vale a pena esquecer durante alguns anos na garrafeira. Comparando as três colheitas que já consumi, há algumas diferenças notórias entre elas, pois cada uma pretende reflectir as especificidades da respectiva colheita, e não homogeneizar o estilo de ano para ano.

A colheita de 2005, provada mais de uma vez, foi a que se apresentou desde sempre como mais suave e apelando mais a aromas de frutos vermelhos, algum floral, corpo e estrutura marcados por alguma elegância. Todas as castas do lote fermentaram em barricas de 2/3 anos durante 16 meses, apresentando-se a madeira bastante discreta e sem marcar o vinho de forma evidente. O rótulo evoca o beijo induzido pelo néctar de Baco...

A colheita de 2006 mostrou-se mais fechada inicialmente, começando por aparentar algum aroma a mofo, o que requereu a imediata decantação após a qual libertou aromas de alguma evolução. Um pouco menos frutado que o de 2005, mostrou-se apto para pratos mais consistentes graças a uma estrutura mais complexa na boca e final prolongado. Tal como na colheita de 2005, foram usadas castas provenientes da Quinta de Ervamoira e da Quinta do Bom Retiro. O rótulo, de 1911, foi desenhado por Leopold Metlicovitz e evoca Adão e Eva e a tentação da serpente, mais uma vez simbolizada pelo néctar de Baco.

Finalmente, a colheita de 2007, com um perfil significativamente diferente dos anteriores. Mais uma vez com uvas da Quinta de Ervamoira e da Quinta do Bom Retiro, apresenta-se com outra juventude, mais pujante, no limite do grau alcoólico, irreverente e a pedir tempo para acalmar, embora esteja já perfeitamente bebível. Muita fruta com sugestões do bosque, alguma especiaria, madeira presente sem ser em excesso, persistência a prometer longevidade. Provavelmente uma colheita destinada a apreciar melhor daqui por mais uns anos, ainda capaz de melhorar na garrafa. O rótulo, “A jovem do Regalo”, é também um original de 1911, da autoria do pintor italiano M. A. Rossotti.

Em suma, um vinho para comprar, comprar e comprar... ir bebendo e ir guardando. Pelo que nos foi dado perceber nas garrafas já provadas, cada colheita será uma surpresa de sensações e aromas.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Douro
Produtor: Ramos Pinto

Vinho: Ramos Pinto Collection 2005 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional (60%), Touriga Franca (30%), Tinta Barroca (10%)
Preço (em 2007): 12,75 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Ramos Pinto Collection 2006 (T)
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional (30%), Touriga Franca (30%), outras (40%)
Preço (em 2009): 13,81 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Ramos Pinto Collection 2007 (T)
Grau alcoólico: 15%
Castas: Touriga Nacional (30%), Touriga Franca (30%), outras (40%)
Preço (em 2010): 14,50 €
Nota (0 a 10): 8,5

Comentários