Krónikas do Alto Alentejo (XXI)

João Portugal Ramos






Uma das minhas visitas mais desejadas por terras do Alto Alentejo era às instalações de João Portugal Ramos, em Estremoz. Situada junto à estrada nacional para Arraiolos a cerca de 3 km de Estremoz, ainda antes da Herdade das Servas, a entrada para o Monte da Caldeira passa quase despercebida ao viajante pois o portão está afastado da estrada e fica logo a seguir a uma curva, pelo que só com atenção se percebe o que ali está. A própria placa com o nome do produtor não está muito visível.

Passei por lá num dia de semana de manhã em que regressava a Portalegre. Cheguei à porta e resolvi entrar. Dirigi-me à recepção e perguntei como eram as visitas. Disseram-me que se quisesse podia fazê-la naquela hora, e lá fui.

João Portugal Ramos é um dos mais conceituados enólogos do país e do Alentejo em particular, com vários vinhos de renome no panorama nacional, tendo já inclusivamente sido premiado. Possui também uma empresa no Ribatejo, a Falua, tendo-se estabelecido em Estremoz em 1988 e plantado a primeira vinha em 1990, depois de vários anos como consultor em diversas empresas de norte a sul do país.

O Monte da Caldeira é a sede da empresa de João Portugal Ramos no Alentejo, onde tem várias parcelas de vinha num total de 450 hectares, estando ainda em fase de plantação uma parcela na encosta por baixo do castelo de Estremoz. Está em funcionamento desde 2003 e todas as instalações do Monte da Caldeira foram construídas de raiz, pelo que foi possível criar todas as facilidades pretendidas, uma das quais é um túnel de trasfega do vinho para a linha de engarrafamento... por baixo da rua! Actualmente produz cerca de 6 milhões de garrafas por ano.

Na zona dos escritórios está a sala de cubas e, junto a esta, a sala de barricas. Existem também alguns lagares de mármore destinados à pisa de parte da produção dos melhores tintos. Em 2005 foram adquiridas novas cubas destinadas à remontagem do vinho de entrada de gama. Existem também balseiros de madeira para fermentação e estágio dos tintos, que vão ser usados durante 10 anos.

O primeiro vinho produzido por João Portugal Ramos no Monte da Caldeira foi o Vila Santa, a que se foram seguindo os restantes produtos que actualmente conhecemos. Os tintos estagiam em madeira, durante períodos que vão decrescendo de acordo com a gama de posicionamento do vinho: 1 ano para o Marquês de Borba Reserva, 9 meses para o Vila Santa, 6 meses para os monocastas Aragonês, Trincadeira, Syrah e Tinta Caiada, 5 meses para o Marquês de Borba. Só o Lóios não tem estágio em madeira.

Para além destes tintos existe ainda uma produção especial proveniente da outra parcela de vinha situada a caminho de Sousel, a Quinta da Viçosa, que resulta da combinação da melhor casta portuguesa e estrangeira de cada ano. Daqui já resultaram combinações muito curiosas como Trincadeira-Syrah, Aragonês-Petit Verdot (parece que esgotou num ápice) e a mais recente Touriga Nacional-Merlot. O Quinta da Viçosa estagia um ano em madeira.

Atravessando a rua entra-se na linha de engarrafamento, totalmente automatizada, desde a colocação das garrafas até ao embalamento nas caixas. Ali a intervenção humana é praticamente inexistente a não ser para vigiar o bom funcionamento do processo. Curiosamente enquanto lá estive uma das garrafas tombou, pelo que foi necessário parar a linha para recolocar as garrafas todas no sítio. Um momento raro, certamente.

Tal como para a Herdade das Servas, o desejo expresso no final da visita (onde não tive oportunidade de falar com o próprio, que andava por terras do oriente juntamente com outros produtores) foi o de que nos continue a brindar com belíssimos vinhos e alguns dos melhores tintos do Alentejo.

Kroniketas, enófilo itinerante

J. Portugal Ramos Vinhos, S. A.
Monte da Caldeira
7100-149 Estremoz
Tel: 268.339.910

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