Krónikas do Alto Alentejo (XIX)

Herdade das Servas

No meu copo 174 - Monte das Servas 2003






O trabalho anda um bocado atrasado, mas ainda há umas Krónikas do Alto Alentejo para postar. Na última fase da minha estada em Portalegre fiz umas incursões mais para sul, para a zona de Estremoz. Uma delas foi uma visita à Herdade das Servas, junto à estrada entre Estremoz e Arraiolos, à porta da qual passava todas as semanas.

A Herdade das Servas é um produtor recente mas antigo. Segundo o testemunho de duas talhas de barro que há por lá, já se faz vinho no local há cerca de 400 anos (1667 é a data apontada), mas este nome começou a tornar-se conhecido no mercado há menos de uma década. Uma vez bebi um vinho com o nome Monte das Servas que me surpreendeu muito agradavelmente, ainda muito antes da onda recente dos vinhos hiperconcentrados e hiperalcoólicos. Era um alentejano robusto e encorpado ao melhor estilo dos tintos alentejanos tradicionais. Há poucos meses tive oportunidade de voltar a provar um desse tempo, da colheita de 2003, com apenas 13,5% de grau alcoólico, um daqueles de perfil antigo. Tinha cor rubi escura, aroma de frutos vermelhos, bem estruturado na boca e com boa persistência. Deve ter sido o último deste género que pude provar. Agora há uma gama alargada de vinhos que cobrem os vários patamares de gostos e preços, desde vinhos de consumo diário até Reservas e monocastas, e este Monte das Servas adquiriu a designação adicional de “Colheita seleccionada”.

Propriedade da família Serrano Mira, a Herdade das Servas conta actualmente com 200 hectares de vinha em mais do que uma localização, tendo mais 45 hectares novos que ainda não começaram a produzir. A produção situa-se em média por volta das 600.000 garrafas por ano, sendo a enologia supervisionada por Luís Duarte, um dos enólogos com várias consultorias no Alentejo, entre as quais conta a Herdade dos Grous e a Herdade da Malhadinha Nova. Todas as uvas colhidas são propriedade da Herdade e transportadas directamente para vinificação na adega.

Sob a orientação da engenheira Ana Margarida, tive a possibilidade de percorrer todas as instalações da adega, desde a zona de vinificação e engarrafamento e a adega, no piso inferior, até à loja, laboratório, sala de provas e as salas destinadas a refeições onde podem também ser realizados outros eventos como casamentos, baptizados e congressos ou conferências, havendo mesmo um auditório para o efeito. Prevista não está, para já, a existência de alojamentos.

A vinha principal situa-se numa extensa área à volta do edifício donde se avista a planície a sul de Estremoz, dominada pelo castelo lá no cimo do monte.

Tive ainda a oportunidade de trocar algumas impressões com Luís Serrano Mira, um dos donos e um dos irmãos que tomaram conta da Herdade, que me expressou a sua intenção de manter sempre a qualidade dos seus vinhos como principal objectivo a alcançar. Exemplo disso é a não produção do excelente Herdade das Servas Aragonês desde a colheita de 2004, por se considerar que a casta não voltou a reunir as qualidades necessárias para os requisitos do vinho, o que é um bom indicador dos critérios de exigência que os produtores impõem a si próprios.

Assim continuem, e que continuem a produzir bons vinhos como até aqui é o que se deseja.

Kroniketas, enófilo viajante

Produtor: Herdade das Servas
Apartado 286
7101-909 Estremoz

Vinho: Monte das Servas 2003 (T)
Região: Alentejo (Borba)
Grau alcoólico: 13,5%
Nota (0 a 10): 7,5

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